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domingo, 29 de abril de 2012

CONTOS: História de Catador de Caranguejo - de Carlos A Caccia


História de Catador de Caranguejo

Carlos A Caccia


Seu Nico
           
Em meados dos anos sessenta, Seu Nico não era simplesmente catador de caranguejo. Ele era parte do mangue na Mata do Engenho Uchôa na cidade de Recife; conhecia tudo por como a palma da mão. Há quem diga que ele começou a gatinhar e andar pescando e catando caranguejo. Quem conhece um manguezal sabe da riqueza que é aquilo e, por saber disso, é que Seu Nico tinha um respeito, uma amizade e um carinho fraternal pelo lugar. Por mais de cinquenta anos, dia após dia de tirava o sustento da família. não saia pra catar caranguejo com tempo muito ruim ou na época de reprodução que ele sabia quando como se fosse caranguejo.

O perigo

Pois bem, certo dia Seu Nico entrou no bar do Bento meio assustado e contou que, dois dias atrás, no final da tarde, quando o sol começava a dar sua ultima espiada do dia por traz das arvores, ele atolado até perto da cintura, como é de costume nessa atividade, se pegou admirando o céu sem nuvem e as águas, que com o restinho de raios de luz que o sol lançava, formava um caminho de luz em sua direção de um amarelo lindo, contrastando com a azul num tom caindo para o escuro, era sua ultima enfiada de mão na lama do mangue pra ver se tirava mais um caranguejo e assim terminar seu dia.

Sua mão ficou presa em alguma coisa, parecia galho de arvore, e por mais que tentasse, não havia jeito de se soltar. A água começou a subir e seu rosto estava rente a lama. Um desespero tomou conta dele porque sabia que se não conseguisse soltar a mão seria seu fim. Começou a fazer força e todo tipo de movimento até a exaustão, e a mão não saia. Aos poucos o sol foi se escondendo, deixando somente aquele resto de claridade que todos os dias lhe servia de lanterna na volta pra casa. A água tinha subido tanto que o esforço pra manter a cabeça fora da água causava uma dor dilacerante no pulso e no pescoço. estava rezando para que seu fim fosse rápido e não sofresse, ao mesmo tempo, lamentava tanta coisa que poderia ter feito. Os filhos que não veria crescer, a vez que não acompanhou seu mais velho no jogo de futebol porque queria descansar e até não ter levado a mulher naquela excursão para o Recife onde queria comprar roupas. Sentiu que naquele momento, o sol, seu companheiro de tantos anos de trabalho, parecia deitar mais rápido que o de costume, talvez pra não ter que ver o triste fim do amigo.

O forasteiro intervém

tinha perdido as esperanças quando escutou um barulho na mata. De rabo de olho viu se aproximar um sujeito com a mesma descrição do homem que por vezes era visto perambulando pela cidade. Disse que o tal homem, que ele jurava ser o forasteiro, andava sem afundar na lama do mangue, chegou perto se deitou na lama e afundou; ele sentia a mão do homem escorregando por seu braço até a mão e, como por mágica, ela se soltou. Contou que estava de com o coração batendo tão forte que dava pra se ouvir de longe, quando o estranho foi se erguendo de dentro da lama onde estava mergulhado por inteiro até ficar de em cima dela sem afundar e tão limpo como chegou. Do mesmo jeito que ele apareceu, voltou e sumiu mata adentro sem dizer nada. Seu Nico tentou falar com ele, agradecer ao menos, mas o choro, misto de alivio e alegria, não deixou a voz sair; ainda muito assustado, pegou o mais rápido que pode tudo que tinha conseguido de caranguejo, e iniciou a volta pra cidade.
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Seu Nico vai embora

Ele jurou que não voltava mais praquele mangue. Ficou na cidade por uns tempos. Aos poucos foi mudando o jeito rude que lhe tinha sido impresso pelo trabalho duro e nenhum estudo. Passou a falar de coisas boas, tinha sempre um sorriso quase fraternal e até conselho falando bonito começou a dar. Ai, sem mais sem menos, pegou a família, o pouco que tinha e foi-se embora pra Belém. Nunca mais se soube dele. De vez em quando alguém afirma ter visto Seu Nico vendendo caranguejo no mercado Ver o Peso em Belém.

Essa é mais uma história de pescador; ou não?

“A história não é importante. Importante é o sonho que a história traz consigo.”
Carlos A Caccia



Carlos A Caccia
É Mitólogo, Pesquisador, Pensador, Filósofo e Poeta. Foi contratado pela Exterior Editora para escrever cinco livros, entre eles, três romances, no qual dois já estão prontos para serem lançados. É um pensador e questionador da natureza, no qual visitou mais de 26 países, produzindo poesias e obras literárias. É Autor da série “Credo Quia Absurdum e das obrasAmazônia: O Manto Verde dos Deuses” eOs Segredos de Madre Konstança” que serão publicadas em breve.

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