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sábado, 9 de maio de 2015

MAX WEBER E A AÇÃO SOCIAL

"Poder é toda chance, seja ela qual for, de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra a relutância dos outros...". 
                                                                                                         Max Weber.

INTRODUÇÃO


            A Sociologia floresceu ao longo do tempo e dentro de um contexto reflexivo sobre o social. Desde que o homem desenvolveu a capacidade de buscar entender o meio em que vive, refletindo a complexidade da natureza humana e sua relação com os demais seres humanos e as coisas ao seu redor, criou pressupostos de estudos, mesmo que primários, mas de alto nível intelectual, entorno do problema do indivíduo versus a sociedade.
            Segundo Eva Maria Lakatos (1979, p.32), "desde tempos muito remotos, essas relações vinham sendo encaradas sob a forma de preceitos religiosos, de legislações e, mesmo, de teorias de direito". Podemos ter como exemplo os filósofos gregos Platão, como seu livro "A República", e Aristóteles, com "A Política", onde tentaram explicar os problemas das relações humanas dentro da polis (cidade) em um contexto mais predominantemente político e econômico.
            Podemos também citar um grande pensador do século IV, Agostinho de Hipona. Ele, com o seu livro "A Cidade de Deus", onde "apresentou ideias e análises básicas para as modernas concepções jurídicas e até sociológicas". (Lakatos, 1979, p. 32).
            Na Idade Média, precisamente na Europa, a religião, principalmente o cristianismo, influencia fortemente as reflexões ligadas aos grupos sociais. Temos como grande pensador deste tempo, Tomás de Aquino, no século XIII, com sua brilhante obra a "Suma Teológica", um tratado voltado às relações inter-humanas. Fortemente influenciado pelas ideologias aristotélicas, ele buscou fundamentar o pensamento cristão criando suas teses de cunho sociológico, antropológico, político e religioso.
            Com a Renascença, surgiram pensadores que influenciaram fortemente nas ideologias sociais e políticas de sua época. Temos como por exemplo, Maquiavel (1469-1527), com seu livro "O Príncipe"; Thomas Morus, com "A Utopia"; Campanella (1568-1639), com "Cidade do Sol"; além de Galileu Galilei (1564-1642); Francis Bacon (1561-1626), com "Novum Organum"; René Descartes (1596-1650), com "O Discurso do Método"; etc.
            Segundo Cristina Costa (2005, p. 35), "as ideias de Thomas Morus e Maquiavel expressam os valores de uma sociedade em mudança, portadora de uma visão laica da sociedade e do poder". 
            Com o Iluminismo, no século XVIII, as ideias de racionalidade e liberdade se convertem em valores supremos. Tivemos grandes pensadores como Montesquieu (1689-1650), com a obra "O Espírito das Leis"; Hume (1711-1776); Jonh Lock (1632-1704), com o "Tratado sobre a Natureza Humana"; Adam Smith (1723-1790), com "A Riqueza das Nações"; Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), com o sua obra "O Contrato Social"; etc. Tais intelectuais contribuíram com a análise das leis, dos poderes políticos e da economia na sociedade.
            Percebemos que o pensamento sociológico pré-científico, em uma linguagem de Cristina Costa, se desenvolveu no tempo (cronológico) dentro dos contextos mitológicos, filosóficos, religiosos e científicos. Mas até então a sociologia não tinha se transformado em ciência social, mesmo sabendo que já se tinha uma preocupação em entender as diferenças entre o indivíduo e a coletividade. Como nos afirma Costa (2005, p. 49), "presos ainda ao princípio da individualidade, esses filósofos entendiam a vida coletiva como a fusão de sujeitos, possibilitada pela manifestação explícita das suas vontades".
            A sociologia desenvolveu um caráter científico e se estabeleceu como ciência social a partir de quatro personalidades: Augusto Comte, Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx.
            O objetivo do nosso trabalho é descrever o pensamento de Max Weber sobre a ação social em contraste com as correntes sociológicas dominantes de sua época, como por exemplo, o funcionalismo de Durkheim. O nosso método de pesquisa foi de cunho bibliográfico, onde houve uma análise seletiva e interpretativa das obras que traziam contextualizações reflexivas em torno das variadas discussões weberianas.
            Na primeira etapa trataremos da historicidade da Alemanha na época de Weber e sua problemática em relação ao seu desenvolvimento intelectual e criticista. Na segunda etapa falaremos sobre o problema do método sociológico e o funcionalismo, no contexto em que o estudo dos variados métodos existentes na sociologia nos ajudam na formação crítica do indivíduo. Na terceira etapa iremos falar sobre a teoria da ação social de Max Weber em contraste com o funcionalismo de Durkheim. E na etapa final faremos uma reflexão em relação a um dos elementos da ação social que é a racionalidade, sem esquecer os seus obstáculos, que desviam os agentes da ação na conquista dos seus objetivos.

1 MAX WEBER, O PROBLEMA DO FUNCIONALISMO E A AÇÃO SOCIAL

1.1 Max Weber e o contexto histórico alemão

            Max Weber nasceu em Erfurt, na Alemanha, no dia 21 de abril de 1864, e morreu em Munique no dia 14 de junho de 1920, com apenas 56 anos. Pela influência educativa doméstica, sua vida social e política foram muito intensas. Seu pai, Sr. Max Weber, era político e jurista, e sua Mãe, Helena Weber, uma protestante calvinista.  Seu convívio com pessoas ilustres da sociedade política e intelectual alemã, juntamente com sua formação crítica acadêmica, fizeram com que Weber tivesse uma postura peculiar diante da realidade. Ele vivia entre a tensão da liberdade de pensamento, devido seus estudos e reflexões, os limites religiosos da educação recebida por sua mãe e a repressão do ambiente político, gerador da autodisciplina e da cobrança cega de uma postura tolerante e acrítica.
            Weber teve várias linhas teóricas de pesquisa e pensamento. Uma delas foi o contexto histórico, tanto das reflexões do Império Romano, fazendo analogias com o presente e levando em consideração suas diferenças temporais, como também foi um crítico da política alemã, tanto no período da primeira guerra mundial, como no pós-guerra. Um de seus alvos foi o rei Guilherme II, onde Weber criticava assiduamente as investidas bélicas, que segundo ele, muitas foram de formas errôneas, como "por exemplo, ao não se dar conta de que, ao intensificar a guerra submarina, a Alemanha atraía contra si a entrada norte-americana no conflito, o que lhe seria fatal"  (Gabriel Cohn, 1999). Como também criticava, até com mais ferocidade, as revoluções pós-guerra, que, segundo ele, comprometiam com sua ação a própria integridade nacional da Alemanha derrotada na guerra[1].
            Era de se esperar tal comportamento, pois, levando em consideração o Tratado de Versalhes, a Alemanha teria que pagar uma alta indenização pela guerra, perder parte dos seus territórios para os países circunvizinhos, reduzir o poderia bélico, além de outras sansões internacionais. (Cf. Gilberto Cotrim, 2005). Com isso o país passou uma das maiores crises sociais, políticas e econômicas desde a sua unificação em Estado-nação em 1871.

1.2 O problema do método sociológico e o funcionalismo

            Antes de entrarmos nos postulados do funcionalismo é preciso compreender que a Sociologia, ao longo da história, foi construída sob a influência de pensamentos, reflexões, teorias, princípios e variados métodos, como por exemplo: as primeiras discussões em saber se a Sociologia seria uma ciência natural ou social; os métodos histórico-crítico e o funcionalista-positivista; o funcionalista-estrutural; o próprio funcionalismo e o estruturalismo; a ação social; as discussões entre 'Estruturalismo X agência' ou suas inter-relações, etc. Um grande crítico das batalhas teóricas entre os diversos pensadores foi o matemático francês Henri Poincaré, no qual afirmou que a Sociologia seria "a ciência com mais métodos e menos resultados" (Thomas Burton Bottomore, 1975).
            Diante de tal afirmação, não podemos deixar de enxergar a contribuição intelectual das variadas teorias e métodos, pois, só assim, podemos discuti-las, interpretá-las, criticá-las e, com liberdade de pensamento, escolher quais linhas teóricas devemos seguir. Temos como exemplo, Max Weber, que, para desenvolver seu pensamento sobre a 'ação social', critica a visão determinista do funcionalismo.
                        Segundo Thomas Burton Bottomore:

A abordagem funcionalista, na Sociologia e na Antropologia Social, começou com uma reação contra os métodos e pretensões dos evolucionistas. Foi uma crítica aos usos, ingênuos e superficiais, do método comparativo, e dos métodos de "história conjetural", que empregavam dados não-verificados e não-sistemáticos sobre sociedades primitivas contemporâneas para reconstruir os primeiros estágios da vida social humana[2].

            O pensamento do funcionalismo vai de encontro com o evolucionismo porque os seus pensadores não aceitavam que toda a história social da humanidade fosse explicada por apenas uma linha científica. Era uma crítica a intensão evolucionista. Segundo alguns teóricos sociais, o grande nome fundacional da corrente funcionalista foi Durkheim[3], que conseguiu bater de frente com o 'darwinismo social' proposto por Herbert Spencer[4].
            O funcionalismo, como método sociológico, tem a função de sistematizar a análise social. Tal linha teórica utiliza unidades sociais como: "pessoas, famílias e estruturas de parentesco, aldeias, ou estruturas analíticas como categorias de idade-sexo ou grupos de status mais amplos"[5], tentando traçar uma visão que envolvam as unidades diferenciadas e suas respectivas interdependências. Durkheim, ao longo de sua vida intelectual, dedicou parte de seus estudos, pesquisas e escritos à 'diferenciação' e 'integração'. Podemos perceber esta forma de técnica científica nas suas principais obras, como: "A Divisão do Trabalho", onde analisa os conceitos de 'solidariedade mecânica' e 'orgânica'; "O suicídio", onde estuda os diversos tipos de suicídio, como por exemplo: o altruísta, o egoísta e o anômico; "As Regras do Método Sociológico", onde, além de trazer todas as prerrogativas para que um fato social seja considerado um objeto de estudo da Sociologia, ele trouxe a concepção de 'normal' e 'patológico'; "As Formas Elementares da Vida Religiosa", onde "ele formulou a suposição de que uma sociedade primitiva ou tribal, com as formas mais rudimentares de tecnologia de sobrevivência, também teria um sistema religioso do tipo mais elementar" (Gabriel Cohn, 1999); dentre tantas outras obras, que poderão ser citadas em outros trabalhos ou aprofundamentos acadêmicos. Seus estudos foram voltados às dicotomias, uma das formas funcionalistas de fazer ciência social.

1.3 A ação social como resposta ao problema funcionalista

            Diante das correntes sociológicas contemporâneas, o funcionalismo está sendo muito criticado e até considerado, para alguns sociólogos, como Robert Nisbert, uma teoria em declínio[6], mesmo sabendo que muitas revistas tradicionais no campo da Sociologia ainda trazem, em seus conteúdos e artigos, muitas reflexões funcionalistas.
            Segundo Wilbert E. Moore, "os ataques contemporâneos ao funcionalismo são feitos habitualmente (embora não exclusivamente) por sociólogos com uma orientação que se auto-intitula de 'crítica' ou 'radical'"[7], o que se encaixa perfeitamente ao sentimento weberiano. Ele sempre estava com uma postura criticista, natural de sua vida intelectual acadêmica diante das realidades políticas, sociais e econômicas. Tinha, na visão de alguns de seus colegas, um comportamento 'exagerado' diante das discussões que travava em sala de aula, ou nos corredores universitários, como o próprio Weber disse, diante de um colega que se encontrava chocado com a sua veemência em um debate: "Exagerar é a minha profissão"[8].
            A primeira consideração de Max Weber, na crítica ao funcionalismo e as correntes dominantes da Sociologia clássica, foi em relação ao método. Como ele explica, escrevendo para o economista Robert Liefmann em 1920:

"Se agora sou sociólogo então é essencialmente para pôr um fim nesse negócio de trabalhar com conceitos coletivos. Em outras palavras: também a Sociologia somente pode ser implementada tomando como ponto de partida a ação do indivíduo ou de um número maior ou menor de indivíduos, portanto de modo estritamente individualista quanto ao método"[9].

            Para Weber, a análise do objeto de estudo da Sociologia não poderia estar ligado ao coletivo, como a sociedade ou o grupo social, mas ao indivíduo. Sua visão era 'individualista', mesmo levando em consideração que a Sociologia trata de fenômenos coletivos.
            Como afirma Grabiel Cohn:

O que ele (Max Weber) sustenta é que o ponto de partida da análise sociológica só pode ser dado pela ação de indivíduos e que ela é 'individualista' quanto ao método. Isso é inteiramente coerente com a posição sempre sustentada por ele, de que no estudo dos fenômenos sociais não se pode presumir a existência já dada de estruturas sociais dotadas de um sentido intrínseco; vale dizer, em termos sociológicos, de um sentido independente daqueles que os indivíduos imprimem às suas ações[10].

            Para Eva Maria Lakatos:

Com Émile Durkheim, a definição de objeto da Sociologia - fato social - tem caráter objetivo, porque determina o caráter social da ação a partir da coerção exercida do exterior sobre a conduta dos indivíduos. Max Weber, quando conceitua de modo subjetivo a ação social - objeto da Sociologia -, baseia-se em critérios internos dos indivíduos participantes.[11]

            O que Weber fez foi descontruir anos e anos de reflexões da Sociologia clássica, que colocava como objetos de estudos sociológicos os entes coletivos, como: a família, a religião, os diversos grupos sociais e etc., de caráter objetivo e determinista, e construiu um esquema analítico de estudo da complexidade social voltados para os conceitos de "ação social, sentido, compreensão, agente individual, tipo ideal, relação social, legitimação e dominação"[12], tendo um caráter subjetivo, pois levava em consideração o agente da ação.
            Agora podemos pensar por outros âmbitos. Não precisamos recorrer diretamente às dicotomias durkheimanas, que põe toda problemática de estudo no campo social, devido ao seu pensamento organicista de sociedade; nem tão pouco ao pensamento 'darwinista social' de Herbert Spencer; nem a outros postulados da Sociologia Clássica, como os de Augusto Comte, etc., pois temos uma nova concepção sociológica de método e objeto. "Para Weber a Sociologia é uma ciência voltada para a compreensão interpretativa da ação social e, por essa via, para a explicação casual dela no seu transcurso e nos seus efeitos"[13].
            A ação social, nesse sentido, é o grande foco dos estudos weberianos. Para ele, a ação social é qualquer ação que o indivíduo pratica, orientando-se pela ação dos outros, levando-se em consideração a sua racionalidade, o seu sentido, a sua compreensão, o seu grau de relacionalidade para com os outros indivíduos, etc. Segundo Gabriel Cohn, a ação social "é uma modalidade específica da ação, ou seja, uma conduta à qual o próprio agente associa um sentido"[14].
            Para se chegar a uma inteligibilidade em relação à problemática da ação social, é preciso levar em consideração alguns pressupostos, como por exemplo: o 'sentido' e o 'motivo' ou 'causa' da ação.
            Weber acredita que o 'sentido' esteja diretamente ligado ao 'motivo', pois, enquanto o primeiro se refere aquilo que o agente subjetivamente visa, o segundo está ligado ao fundamento da ação. A partir desta discussão podemos perceber que o 'sentido' nos leva a 'compreensão'. Para Gabriel Cohon, "sentido é o que se compreende e compreensão é captação do sentido"[15]. O 'motivo' seria o que uni o 'sentido' e a 'compreensão', como uma ponte entre esses dois pressupostos da ação do agente. O sentido, de uma forma mais ampla, seria um meio para se atingir um fim.
            Percebemos também, com o estudo de Max Weber, que essa ação social não acontece de forma isolada, existindo, assim, um processo, uma sequencia de fatores que influenciam na ação do agente no âmbito social de forma significativa. Isso foi chamado de 'cadeia motivacional', que seria o ato parcial realizado no processo, servindo de fundamento para os atos seguintes, até completar toda a sequencia desejada[16].

1.4 A racionalidade da ação social e seus obstáculos

            Essa problemática do processo de ação social é entendida segundo a racionalidade do agente que, segundo Eva Maria Lakatos, estão divididos em quatro partes: racional, visando aos fins; racional, visando aos valores; afetiva e tradicional.

O 'racional, visando aos fins', seria determinada por expectativas em relação ao comportamento, tanto de objetos do mundo exterior quanto de outros homens, sendo essas expectativas utilizadas como 'condições ou 'meios' para alcançar fins próprios, racionalmente avaliados e procurados; O 'racional, visando aos valores' seria determinada pela crença consciente em um valor (ético, estético, religioso ou qualquer outro) próprio de uma conduta específica, sem relação alguma com o resultado, ou seja, baseada nos méritos desse valor; O 'afetivo' seria especialmente o emotivo, determinado por afetos e estados sentimentais; O 'tradicional' seria determinada por um costume arraigado[17].

            Dessa forma, segundo Kingsley Davis, em sua obra 'A Sociedade Humana', "todas as ações humanas possuem pelo menos um elemento racional. [...] Uma vez que a realização de um fim exige certa adaptação dos meios a esse fim, existe um elemento de racionalidade, ou de tentativa de racionalidade, em todas as ações humanas"[18]. Nessa perspectiva, a racionalidade não se encontra isolada, como fundamento único da ação, gerando certeza na concretização dos objetivos. Weber também levou em consideração a 'ignorância' humana, como também a 'incerteza do fim', os 'fins superempíricos' e as 'restrições normativas' como obstáculos ou 'desvios do comportamento racional', que atrapalham a ação social.
            A ignorância seria a falta de conhecimento. É um obstáculo no sentido de que o agente só pode utilizar-se daquilo que sabe e jamais ele conhece todos os meios possíveis existentes para a conquista do fim desejado. A incerteza do fim seria  a problematização das consequências imprevisíveis durante o percurso da ação. Tais consequências levam a um obscurantismo do próprio fim, levando o agente a duvidar da sua concretização. Outro obstáculo para a racionalização do agente é o fim superempírico, que é entendido como algo de natureza transcende e religiosa, como um tipo de 'salvação', onde o agente visa um fim de forma imaginária. É uma visão do futuro, sendo impossível provar ou negar de forma empírica ou científica. E por fim, temos as restrições normativas. Esse obstáculo leva em consideração o 'erro' e o 'fracasso'. O erro seria a capacidade de escolher os meios de forma inadequada, e o fracasso seria a falta de liberdade na seleção do meio mais eficiente.
            Percebemos que o conhecimento do significado, da motivação, do valor e do sentido, além da compreensão dos meios, a racionalização do agente, e tantos outros elementos da ação social, são importantíssimos para que o indivíduo conquiste o fim almejado. A consciência dos obstáculos ou desvios dos meios da ação faz parte do estudo da racionalização do agente, no sentido de que tal conhecimento facilita a conquista do fim desejado, não acontecendo desvios nem erros que levam ao fracasso.  

CONCLUSÃO

            A Sociologia moderna se desenvolveu não só pela forma dialógica teórica ao longo dos séculos, mas também pela necessidade de compreensão da estrutura complexa social. As grandes revoluções do século XVIII, que ocorreram na Europa e nos EUA, chamadas "as revoluções burguesas", também tiveram papel fundamental na construção de um pensamento científico social. Podemos citar a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, que estimularam o desenvolvimento do capitalismo, pondo fim às monarquias absolutistas e, assim, contribuíram para a eliminação das barreiras que impediam o livre desenvolvimento econômico.
            A Revolução Francesa, no final do século XVIII, foi um grande evento liderado pela burguesia contra a monarquia francesa de Luis XVI. Os burgueses se opunham ao regime monárquico devido a não permissão da livre constituição de empresas, o que impedia-os de realizar seus interesses econômicos. Defendiam a liberdade e a igualdade, além de organizarem o Estado de forma independente do poder religioso, promovendo, assim, profundas inovações na área econômica ao criar medidas para favorecer o desenvolvimento das empresas capitalistas.
            A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII, e significou a liberdade de permitir aos empresários industriais que desenvolvessem e criassem novas formas de produzir e enriquecer. Desse modo a Revolução Industrial conseguiu uma forte revolução social, que se manifestou por transformações profundas na estrutura institucional, cultural, política e social. Surgiu a máquina a vapor, e assim, o aumento da produção. Com isso teve a melhoria dos transportes e o crescimento das cidades. O desenvolvimento da técnica levou os empresários a incrementar o processo produtivo e a aumentar as taxas de lucro.
            Diante desses fatores problematizantes, que influenciaram na construção das sociedades complexas modernas, Max Weber tinha como preocupação compreender a racionalidade, ou melhor, a maneira como a razão podia apreender o conhecimento, pois o capitalismo levou a uma crescente racionalização da sociedade, conduzindo à mecanização das relações humanas.
            Partindo desse pressuposto, o nosso trabalho teve como ponto inicial explicar o contexto histórico da Alemanha no tempo de Weber, mostrando as diversas influências que o levou a desenvolver seus pensamentos sociológicos de cunho crítico. Na segunda etapa discutimos sobre a problemática dos métodos da Sociologia e o funcionalismo e, assim, refletimos a 'ação social' de Weber, trazendo para a sociologia um pensamento "individual" ou para o "indivíduo", em confronto com o pensamento durkheimiano, que se preocupava puramente com o "coletivo".
            Para Max Weber, o estudo da "ação social" é uma excelente via de compreensão da complexidade da sociedade. A ação social seria o objeto da Sociologia. Weber analisou a racionalidade do agente da ação e identificou seus variados tipos, como: racional por valor, por fim, tradicional e afetiva. Preocupou-se também com os obstáculos da racionalidade, como a 'ignorância' humana, a 'incerteza do fim', os 'fins superempíricos' e as 'restrições normativas', que são 'desvios do comportamento racional', que atrapalham a ação social.
            Max Weber foi um dos maiores pensadores do século XIX e XX. Mesmo que sua carreira sociológica só tenha se firmado nos seus últimos anos de vida, suas reflexões serviram e servem de base formativa para a academia mundial. Suas obras, teorias e reflexões ainda traduzem o sentimento de mudança e de quebra de pensamentos puramente organicistas, que absolutizam a sociedade, deixando o ser humano, na sua individualidade, a mercê da estrutura funcional.
            Portanto, concluímos que a ação social não só nos deixa uma visão do indivíduo como promotor do 'devir' social, mas também uma esperança de mudança, que, com a ação em conjunto, os indivíduos de uma sociedade podem, organizados, mudá-la e transformá-la, para que um dia seja alcançado o bem comum, a justiça social e a felicidade.

REFERÊNCIAS

BOTTOMORE, Thomas Burton. Introdução à Sociologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.


COHN, Gabriel. Introdução. In: Max Weber: sociologia. Gabriel Cohn (org.). São Paulo: Ática, 1999. (Col. Grandes cientistas sociais).


COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2005.


DAVIS, Kingsley. A sociedade humana. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1964.


COTRIM, Gilberto. História global: Brasil e geral. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.


LAKATOS, Eva Maria. Sociologia Geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1979.


MORRE, Wilbert E. O Funcionalismo. In: BOTTOMORE, Tom. NISBET, Robert. História da análise sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.




[1] Cf. COHN, Gabriel. Introdução. In: Max Weber: sociologia. Gabriel Cohn (org.). São Paulo: Ática, 1999. (Col. Grandes cientistas sociais).
[2] BOTTOMORE, Thomas Burton. Introdução à Sociologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975. p. 64.
[3] David Émile Durkheim é um sociólogo francês e fundador da escola francesa de sociologia. É amplamente reconhecido como um dos melhores teóricos do conceito da coesão social, utilizando termos como 'anomia', expressão usada na explicação da desagregação do homem ou dos grupos em sociedade, como base dos seus estudos científicos sociológicos.
[4] Herbert Spencer foi um filósofo inglês. Um grande defensor do positivismo social e seguidor dos ensinamentos de Charles Darwin. É considerado o 'pai' do 'darwinismo social', pois defendia a tese darwinista da seleção natural, onde utilizou termos como a "sobrevivência do mais apto", para defender que: a evolução existia em todos os níveis da atividade humana.
[5] MORRE, Wilbert E. O Funcionalismo. In: BOTTOMORE, Tom. NISBET, Robert. História da análise sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.
[6] Cf. MORRE, Wilbert E. O Funcionalismo. In: BOTTOMORE, Tom. NISBET, Robert. História da análise sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980. p. 421.
[7] Ibdem.
[8] COHN, Gabriel. Introdução. In: Max Weber: sociologia. Gabriel Cohn (org.). São Paulo: Ática, 1999. (Col. Grandes cientistas sociais).
[9] Ibidem.
[10] COHN, Gabriel. Introdução. In: Max Weber: sociologia. Gabriel Cohn (org.). São Paulo: Ática, 1999. (Col. Grandes cientistas sociais).
[11] LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1979.
[12] Ibidem.
[13] Ibidem.
[14] COHN, Gabriel. Introdução. In: Max Weber: sociologia. Gabriel Cohn (org.). São Paulo: Ática, 1999. (Col. Grandes cientistas sociais).
[15] Ibidem.
[16] Cf. Ibidem.
[17] LAKATOS, Eva Maria. Sociologia geral. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1979.
[18] DAVIS, Kingsley. A sociedade humana. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1964.


Renato Padilha Ferreira Barros
É advogado e bacharel em Direito pela Faculdade Salesiana do Nordeste. É pós-graduado em Docência em Filosofia e Sociologia pelo INSAF - Instituto Salesiano de Filosofia. É graduado em Comunicação Social com Habilitação em Relações Públicas pela ESURP - Escola Superior de Relações Públicas.

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