Quem é que não se lembra
Daquele grito que parecia trovão?!
– É que ontem
Soltei meu frito de revolta.
Meu grito de revolta ecoou pelos vales
mais longínquos da Terra,
Atravessou os mares e os oceanos,
Transpôs os Himalaias de todo o Mundo,
Não respeitou fronteiras
E fez vibrar meu peito...
Meu grito de revolta fez vibrar os
peitos de todos os Homens,
Confraternizou todos os Homens
E transformou a Vida...
... Ah! O meu grito de revolta que
percorreu o Mundo,
Que não transpôs o Mundo,
O Mundo que sou eu!
Ah! O meu grito de revolta que feneceu
lá longe,
Muito longe,
Na minha garganta!
Na garganta de todos os Homens.
Amílcar Cabral
Filho de Juvenal Lopes Cabral (cabo-verdiano[1])
e de Iva Pinhel Évora (guineense[1]),
aos oito anos de idade, sua família mudou-se para Cabo Verde,
estabelecendo-se em Santa Catarina (ilha de
Santiago), que passou a ser a cidade de sua infância, onde completou
o ensino primário. De seguida mudou com a mãe os irmãos para Mindelo,
São Vicente, onde veio a terminar o curso liceal em 1943. No ano seguinte,
mudou-se para a cidade de Praia, na Ilha de
Santiago, e começou a trabalhar na Imprensa Nacional, mas só por um
ano pois, tendo conseguido uma bolsa de estudos, no ano de 1945 ingressou no Instituto Superior de Agronomia[1],
em Lisboa.
Após graduar-se em 1950,
trabalhou por dois anos na Estação Agronómica de Santarém.
Contratado pelo Ministério do Ultramar como adjunto dos Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné,
regressou a Bissau em 1952. Iniciou seu trabalho
na granja experimental de Pessube percorrendo grande parte do país, de porta em
porta, durante o Recenseamento Agrícola de 1953 adquirindo um
conhecimento profundo da realidade social vigente. Suas atividades políticas,
iniciadas já em Portugal, reservam-lhe a antipatia do Governador da colônia, Melo e Alvim,
que o obriga a emigrar para Angola. Nesse país, une-se ao MPLA[1].
Em 1959,
Amílcar Cabral, juntamente com Aristides
Pereira, seu irmão Luís Cabral,
Fernando Fortes, Júlio de Almeida e Elisée Turpin, funda o partido clandestino Partido
Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).
Quatro anos mais tarde, o PAIGC sai da clandestinidade ao estabelecer uma
delegação na cidade de Conacri, capital da República de Guiné-Cronacri. Em 23 de janeiro de1963 tem início a
luta armada contra a metrópole colonialista,
com o ataque ao quartel de Tite, no sul da Guiné-Bissau,
a partir de bases na Guiné-Conacri.
Em 1970,
Amílcar Cabral, fazendo-se acompanhar de Agostinho
Neto e Marcelino dos Santos, é recebido pelo Papa Paulo VI[2] em
audiência privada. Em 21 de novembro do mesmo ano, o Governador
português da Guiné-Bissau determina o início da Operação Mar Verde, com a finalidade de
capturar ou mesmo eliminar os líderes do PAIGC, então aquartelados
em Conacri.
A operação não teve sucesso.
Em 20 de janeiro de 1973, Amílcar Cabral é
assassinado em Conacri, por dois membros de seu próprio partido. Amílcar
Cabral profetizara seu fim, ao afirmar: "Se alguém me há de fazer mal, é
quem está aqui entre nós. Ninguém mais pode estragar o PAIGC, só nós
próprios." Aristides Pereira, substituiu-o na chefia do PAIGC. Após a morte de
Cabral a luta armada se intensifica e a independência de Guiné-Bissau é
proclamada unilateralmente em 24 de
Setembro de 1973. Seu meio-irmão, Luís de Almeida Cabral[3],
é nomeado o primeiro presidente do país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário