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domingo, 29 de setembro de 2013

FOTOS HISTÓRICAS: O operário que cruzou os braços diante de Hitler

August Landmesserm

O operário que cruzou os braços diante de Hitler


Não é fácil resistir ao poderio de uma ditadura popular… como a nazista. Pois um trabalhador solitário, August Landmesserm, decidiu desafiar o totalitarismo do regime de Adolf Hitler. Em 1936, em Hamburgo, numa solenidade, enquanto todos saudaram o Führer, Landmesserm cruzou os braços.
A fotografia mostra todos ovacionando Hitler, com a tradicional saudação com o braço direito levantado, mas, exibindo com muita coragem sua objeção de consciência, Landmesserm permanece impassível, com os braços cruzados.
A história de Landmesserm é curiosa. Em 1931, filiou-se ao Partido Nacional-Socialista Operário Alemão, “com a esperança de encontrar um emprego” (os nazistas chegaram ao poder em 1933, e legalmente). Mesmo assim, assinala o jornal, o operário não comungava das ideias nazistas.
Landmesserm “desafiou a famosa lei Rassenschande (‘desonra da raça’)” e casou-se e teve filhos “com uma mulher de origem judia”. Em 1938, e não, portanto, por causa da fotografia, o trabalhador foi preso pela Gestapo. Cometera um crime “grave”, do ponto de vista do nazismo, ao se unir com uma judia. A fotografia foi identificada por uma das filhas de Landmesserm, em 1991, num jornal alemão.

ENTREVISTAS:Clarice Lispector entrevista Pablo Neruda

Clarice Lispector entrevista Pablo Neruda

Numa manhã de abril de 1969, a escritora brasileira entrevistou o poeta chileno, que, à época, era considerado um dos mais importantes nomes da poesia em língua espanhola
Cheguei à porta do edifício de apartamentos onde mora Rubem Braga e onde Pablo Neruda e sua esposa Matilde se hospedavam — cheguei à porta exatamente quando o carro parava e retiravam a grande bagagem dos visitantes. O que fez Rubem dizer: “É grande a bagagem literária do poeta”. Ao que o poeta retrucou: “Minha bagagem literária deve pesar uns dois ou três quilos”.
Neruda é extremamente simpático, sobretudo quando usa o seu boné (“tenho poucos cabelos, mas muitos bonés”, disse). Não brinca porém em serviço: disse-me que se me desse a entrevista naquela noite mesma só responderia a três perguntas, mas se no dia seguinte de manhã eu quisesse falar com ele, responderia a maior número. E pediu para ver as perguntas que eu iria fazer. Inteiramente sem confiança em mim mesma, dei-lhe a página onde anotara as perguntas, esperando Deus sabe o quê. Mas o quê foi um conforto. Disse-me que eram muito boas e que me esperaria no dia seguinte. Saí com alívio no coração porque estava adiada a minha timidez em fazer perguntas. Mas sou uma tímida ousada e é assim que tenho vivido, o que, se me traz dissabores, tem-me trazido também alguma recompensa. Quem sofre de timidez ousada entenderá o que quero dizer.
Antes de reproduzir o diálogo, um breve esboço sobre sua carga literária. Publicou “Crepusculário” quando tinha 19 anos. Um ano depois publicava “Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”, que até hoje é gravado, reeditado, lido e amado. Em seguida escreveu “Residência na Terra”, que reúne poemas de 1925 a 1931, da fase surrealista. “A Terceira Residência”, com poemas até 1945, é um intermediário com uma parte da Espanha no coração, onde é chorada a morte de Lorca, e a guerra civil que o tocou profundamente e despertou-o para os problemas políticos e sociais. Em 1950, “Canto Geral”, tentativa de reunir todos os problemas políticos, éticos e sociais da América Latina. Em 1954: “Odes Elementares”, em que o estilo fica mais sóbrio, buscando simplicidade maior, e onde se encontra, por exemplo, “Ode à cebola”. Em 1956, “Novas Odes Elementares” que ele descobre nos temas elementares que não tinham sido tocados. Em 1957, “Terceiro Livro das Odes”, continuando na mesma linha. A partir de 1958, publica “Estravagario, Navegações e Regressos”, “Cem Sonetos de Amor”, “Contos Cerimoniais” e “Memorial de Isla Negra”.
No dia seguinte de manhã, fui vê-lo. Já havia respondido às minhas perguntas, infelizmente: pois, a partir de uma resposta, é sempre ou quase sempre provocada outra pergunta, às vezes aquela a que se queria chegar. As respostas eram sucintas. Tão frustrador receber resposta curta a uma pergunta longa. Contei-lhe sobre a minha timidez em pedir entrevistas, ao que ele respondeu: “Que tolice”. Perguntei-lhe de qual de seus livros ele mais gostava e por quê. Respondeu-me: “Tu sabes bem que tudo o que fazemos nos agrada porque somos nós — tu e eu — que o fizemos”. A entrevista foi concedida em 19 de abril de 1969 e publicada no livro “De Corpo Inteiro”, Editora Rocco, em 1999.
Você se considera mais um poeta chileno ou da América Latina?
Poeta local do Chile, provinciano da América Latina.
Escrever melhora a angústia de viver?
Sim, naturalmente. Tra­ba­lhar em teu ofício, se amas teu o­fí­cio, é celestial. Senão é infernal.
Quem é Deus?
Todos algumas vezes. Nada, sempre.
Como é que você descreve um ser humano o mais completo possível?
Político, poético. Físico.
Como é uma mulher bonita para você?
Feita de muitas mulheres.
Escreva aqui o seu poema predileto, pelo menos predileto neste exato momento?
Estou escrevendo. Você pode esperar por mim dez anos?
Em que lugar gostaria de viver, se não vivesse no Chile?
Acredite-me tolo ou patriótico, mas eu há algum tempo es­crevi em um poema: Se tivesse que nascer mil vezes. Ali quero nascer. Se tivesse que morrer mil vezes. Ali quero morrer…
Qual foi a maior alegria que teve pelo fato de escrever?
Ler minha poesia e ser ouvido em lugares desolados: no deserto aos mineiros do norte do Chile, no Estreito de Ma­ga­lhães aos tosquiadores de ovelha, num galpão com cheiro de lã suja, suor e solidão.
Em você o que precede a criação, é a angústia ou um estado de graça?
Não conheço bem esses sentimentos. Mas não me creia in­sensível.
Diga alguma coisa que me surpreenda.
748. (E eu realmente surpreendi-me, não esperava uma harmonia de números)
Você está a par da poesia brasileira? Quem é que você prefere na nossa poesia?
Admiro Drummond, Vinícius, Jorge de Lima. Não conheço os ma­is jovens e só chego a Paulo Men­des Campos e Geir Campos. O poema que mais me agrada é o “Defunto”, de Pedra Nava. Sem­pre o leio em voz alta aos meus amigos, em todos os lugares.
Que acha da literatura engajada?
Toda literatura é engajada.
Qual de seus livros você mais gosta?
O próximo.
A que você atribui o fato de que os seus leitores acham você o “vulcão da América Latina”?
Não sabia disso, talvez eles não conheçam os vulcões.
Qual é o seu poema mais recente?
“Fim do Mundo”. Trata do século 20.
Como se processa em você a criação?
Com papel e tinta. Pelo menos essa é a minha receita.
A critica constrói?
Para os outros, não para o criador.
Você já fez algum poema de encomenda? Se não o fez faça agora, mesmo que seja bem curto.
Muitos. São os melhores. Este é um poema.
O nome Neruda foi casual ou inspirado em Jan Neruda, poeta da liberdade tcheca?
Ninguém conseguiu até agora averiguá-lo.
Qual é a coisa mais importante no mundo?
Tratar para que o mundo seja digno para todas as vidas humanas, não só para algumas.
O que é que você mais deseja para você mesmo como indivíduo?
Depende da hora do dia.
O que é amor? Qualquer tipo de amor.
A melhor definição seria: o amor é o amor.
Você já sofreu muito por amor?
Estou disposto a sofrer mais.
Quanto tempo gostaria você de ficar no Brasil?
Um ano, mas depende de meus trabalhos.
E assim terminou a entrevista com Pablo Neruda. An­tes falasse ele mais. Eu poderia prolongá-la quase que indefinidamente. Mas era a primeira entrevista que ele dava no dia seguinte à sua chegada, e sei quanto uma entrevista pode ser cansativa. Esponta­nea­mente, deu-me um livro, “Cem Sonetos de Amor”. E depois de meu no­me, na dedicatória, escreveu: “De seu amigo Pa­blo”. Eu também sinto que ele poderia se tornar meu amigo, se as circunstâncias facilitassem. Na contracapa do livro diz: “Um todo manifestado com uma espécie de sensualidade casta e pagã: o amor co­mo uma vocação do homem e a poesia co­mo sua tarefa”. Eis um retrato de corpo inteiro de Pablo Neruda nestas últimas frases.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

TRILHAS SONORAS: 2001 Uma Odisseia no Espaço



2001: A Space Odyssey
2001: Odisseia no Espaço (PT)
2001 - Uma Odisseia no Espaço (BR)
Pôster promocional
 Estados Unidos /  Reino Unido1
1968 •  Metrocolor •  142 min 
Produção
DireçãoStanley Kubrick
ProduçãoStanley Kubrick
RoteiroStanley Kubrick
Arthur C. Clarke
Elenco originalKeir Dullea
Gary Lockwood
William Sylvester
Douglas Rain
GéneroFicção Científica
Drama
Idioma originalInglês
CinematografiaGeoffrey Unsworth
EdiçãoRay Lovejoy
EstúdioMetro-Goldwyn-Mayer
Stanley Kubrick Productions
DistribuiçãoReino Unido Metro-Goldwyn-Mayer
Estados Unidos Metro-Goldwyn-Mayer
Brasil Warner Home Video1
LançamentoReino Unido 2 de abril de 1968
Estados Unidos 2 de abril de 1968
Brasil 29 de abril de 19681
OrçamentoUS$ 10.5 milhões
ReceitaUS$ 56.715.371
Cronologia
2010
Próximo
Próximo

Página no IMDb (em inglês)
Projeto Cinema  • Portal Cinema
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/2001:_A_Space_Odyssey

terça-feira, 17 de setembro de 2013

TRILHAS SONORAS: Jurasssic Park



















Jurassic Park
Parque Jurássico (PT)
Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (BR)
Cartaz original de divulgação
 Estados Unidos
1993 •  cor •  126 min 
Produção
DireçãoSteven Spielberg
ProduçãoKathleen Kennedy
Gerald R. Molen
RoteiroMichael Crichton
David Koepp
Criação originalJurassic Park, de Michael Crichton
Elenco originalSam Neill
Laura Dern
Jeff Goldblum
Richard Attenborough
Joseph Mazzello
Ariana Richards
Samuel L. Jackson
Wayne Knight
Bob Peck
Martin Ferrero
B.D. Wong
GêneroAventura
Ficção Científica
Idioma originalInglês
MúsicaJohn Williams
Diretor de fotografiaDean Cundey
Efeitos especiaisIndustrial Light & Magic
Stan Winston Studio
EdiçãoMichael Kahn
EstúdioAmblin Entertainment
DistribuiçãoUniversal Studios
LançamentoEstados Unidos 09 de junho de 1993
Brasil 13 de junho de 1993
OrçamentoUS$ 63 milhões1
ReceitaUS$ 1.029.153.8821
Cronologia
The Lost World: Jurassic Park
Próximo
Próximo

Página no IMDb (em inglês)
Projeto Cinema  • Portal Cinema
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jurassic_Park_(filme)

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

O ANALFABETO MIDIÁTICO

Por Celso Vicenzi 

"Ele imagina que tudo pode ser compreendido sem o mínimo esforço
intelectual". Reflexões em torno de poema de Brecht, no século 21


(Leia, ao final do texto, O Analfabeto Político, de Bertolt Brecht)


O pior analfabeto é o analfabeto midiático.

Ele ouve e assimila sem questionar, fala e repete o que ouviu, não participa dos acontecimentos políticos, aliás, abomina a política, mas usa as redes sociais com ganas e ânsias de quem veio para justiçar o mundo. Prega ideias preconceituosas e discriminatórias, e interpreta os fatos com a ingenuidade de quem não sabe quem o manipula. Nas passeatas e na internet, pede liberdade de expressão, mas censura e ataca quem defende bandeiras políticas. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. E que elas – na era da informação instantânea de massa – são muito influenciadas pela manipulação midiática dos fatos. Não vê a pressão de jornalistas e colunistas na mídia impressa, em emissoras de rádio e tevê – que também estão presentes na internet – a anunciar catástrofes diárias na contramão do que apontam as estatísticas mais confiáveis. Avanços significativos são desprezados e pequenos deslizes são tratados como se fossem enormes escândalos. O objetivo é desestabilizar e impedir que políticas públicas de sucesso possam ameaçar os lucros da iniciativa privada. O mesmo tratamento não se aplica a determinados partidos políticos e a corruptos que ajudam a manter a enorme desigualdade social no país.

Questões iguais ou semelhantes são tratadas de forma distinta pela mídia. Aula prática: prestar atenção como a mídia conduz o noticiário sobre o escabroso caso que veio à tona com as informações da alemã Siemens. Não houve nenhuma indignação dos principais colunistas, nenhum editorial contundente. A principal emissora de TV do país calou-se por duas semanas após matéria de capa da revista IstoÉ denunciando o esquema de superfaturar trens e metrôs em 30%.

O analfabeto midiático é tão burro que se orgulha e estufa o peito para dizer que viu/ouviu a informação no Jornal Nacional e leu na Veja, por exemplo. Ele não entende como é produzida cada notícia: como se escolhem as pautas e as fontes, sabendo antecipadamente como cada uma delas vai se pronunciar. Não desconfia que, em muitas tevês, revistas e jornais, a notícia já sai quase pronta da redação, bastando ouvir as pessoas que vão confirmar o que o jornalista, o editor e, principalmente, o “dono da voz” (obrigado, Chico Buarque!) quer como a verdade dos fatos. Para isso as notícias se apoiam, às vezes, em fotos e imagens. Dizem que “uma foto vale mais que mil palavras”. Não é tão simples (Millôr, ironicamente, contra-argumentou: “então diga isto com uma imagem”). Fotos e imagens também são construções, a partir de um determinado olhar. Também as imagens podem ser manipuladas e editadas “ao gosto do freguês”. Há uma infinidade de exemplos. Usaram-se imagens para provar que o Iraque possuía depósitos de armas químicas que nunca foram encontrados. A irresponsabilidade e a falta de independência da mídia norte-americana ajudaram a convencer a opinião pública, e mais uma guerra com milhares de inocentes mortos foi deflagrada.

O analfabeto midiático não percebe que o enfoque pode ser uma escolha construída para chegar a conclusões que seriam diferentes se outras fontes fossem contatadas ou os jornalistas narrassem os fatos de outro ponto de vista. O analfabeto midiático imagina que tudo pode ser compreendido sem o mínimo de esforço intelectual. Não se apoia na filosofia, na sociologia, na história, na antropologia, nas ciências política e econômica – para não estender demais os campos do conhecimento – para compreender minimamente a complexidade dos fatos. Sua mente não absorve tanta informação e ele prefere acreditar em “especialistas” e veículos de comunicação comprometidos com interesses de poderosos grupos políticos e econômicos. Lê pouquíssimo, geralmente “best-sellers” e livros de autoajuda. Tem certeza de que o que lê, ouve e vê é o suficiente, e corresponde à realidade. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e o espoliador das empresas nacionais e multinacionais.

O analfabeto midiático gosta de criticar os políticos corruptos e não entende que eles são uma extensão do capital, tão necessários para aumentar fortunas e concentrar a renda. Por isso recebem todo o apoio financeiro para serem eleitos. E, depois, contribuem para drenar o dinheiro do Estado para uma parcela da iniciativa privada e para os bolsos de uma elite que se especializou em roubar o dinheiro público. Assim, por vias tortas, só sabe enxergar o político corrupto sem nunca identificar o empresário corruptor, o detentor do grande capital, que aprisiona os governos, com a enorme contribuição da mídia, para adotar políticas que privilegiam os mais ricos e mantenham à margem as populações mais pobres. Em resumo: destroem a democracia.

Para o analfabeto midiático, Brecht teria, ainda, uma última observação a fazer: Nada é impossível de mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual.

_______

O analfabeto político

O pior analfabeto, é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida,
O preço do feijão, do peixe, da farinha
Do aluguel, do sapato e do remédio
Depende das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que
Se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia política.
Não sabe o imbecil,
Que da sua ignorância nasce a prostituta,
O menor abandonado,
O assaltante e o pior de todos os bandidos
Que é o político vigarista,
Pilanta, o corrupto e o espoliador
Das empresas nacionais e multinacionais.

Bertold Brecht

COMENTÁRIO ACERCA DAS QUESTÕES DE FILOSOFIA DO DIREITO DA 1ª FASE DO EXAME DA OAB REALIZADO NO DIA 18/08/2013


Analisando a prova da OAB do dia 18/08/2013, TIPO 4-AZUL, verifiquei que as questões 11 e 12 tratavam da disciplina de Filosofia do Direito, uma matéria de grande relevância para a academia jurídica. Dessa forma, senti a necessidade de desenvolver este texto com o objetivo de discutir os temas abordados na prova e que seriam fundamentais para uma boa realização da 1ª fase do Exame da OAB no campo jusfilosófico.

 Primeiramente, é necessário perceber que as duas questões tratam de uma das obras mais importantes de Aristóteles, Ética a Nicômaco. O Estagirita (nascido em 384 a.C., em Estagira, na Trácia) desenvolveu uma reflexão em torno da Ética, sistematizando o que seria a areté (virtude ou excelência ética). Nesse contexto, a liberdade é a principal condição da razão prática e um dos aspectos fundamentais para se discutir uma filosofia moral. O homem só pode viver a moralidade, no âmbito da polis, utilizando-se da liberdade. Assim, praticando deliberadamente atos repetitivos, irá desenvolver hábitos que, posteriormente, se tornarão virtudes ou vícios. “Aristóteles distingue vícios e virtudes pelo critério do excesso, da falta e da moderação: um vício é um sentimento ou uma conduta excessivos, ou, ao contrário, deficientes; uma virtude, um sentimento ou uma conduta moderados.” (Marilena Chaui, 1995).


            Agora podemos aprofundar o conceito de virtude aristotélica e adentrar nos temas abordados nas questões 11 e 12 da prova da Ordem. Para o Estagirita, “virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta.” (Os Pensadores, Aristóteles, Ética a Nicômaco, 1984). Isto quer dizer, exemplificado com a virtude da justiça, que o homem que quer ser justo, terá que escolher o meio termo entre duas injustiças, quais sejam: o excesso de justiça, que seria um ato injusto, e a deficiência de justiça, que seria também outro ato injusto. Ficaria dessa forma:
 

(Excesso de Justiça) INJUSTO – JUSTO (Meio Termo) – INJUSTO (Falta de Justiça)


            A justiça é uma virtude e, como foi dito anteriormente, virtude é o meio-termo. Com esta explicação está respondida a questão 12. Vamos analisar então a questão 11.

Existem dois grupos de virtudes defendidos por Aristóteles: um é o do intelecto e outro é o da moral. Todos os dois com implicações práticas. O primeiro está relacionado ao desenvolvimento das capacidades intelectivas, enquanto o segundo ao controle das paixões e da escolha dos meios para tal fim. As virtudes intelectivas são: a ciência intuitiva (noûs), que é o entendimento das coisas a partir das habitualidades. Entra ai o conceito da tábua rasa; a ciência intelectiva (epistéme), que seria o saber demonstrativo, que diz o que as coisas são e por que são; a sabedoria (sophia), que é o saber das causas e seus princípios primeiros; a arte (téchne), que é o saber dos meios empregados para alcançar os fins desejados. Um exemplo seria o médico que tem a arte de curar, quer dizer, ele é um perito ou um técnico, é o homem que sabe fazer as coisas; e a razão prática (phróneses). Esta última virtude, segundo o Estagirita, se caracteriza pelo poder de um homem, dotado de sabedoria prática, em escolher sobre o que é bom e conveniente para ele e para a vida boa em geral. As virtudes morais são: a prudência, a temperança, a coragem, a justiça, etc. Todas tendo como fundamento a escolha do meio termo entre os seus excessos e suas faltas.

Poderia falar mais sobre a virtude aristotélica, mas o pouco explanado é suficiente para responder as duas questões da prova da Ordem ligadas a Filosofia do Direito, alcançando, assim, o objetivo do texto.

Segue abaixo as questões 11 e 12 do XI EXAME DE ORDEM UNIFICADO, da OAB, Tipo 4-Azul, realizados no dia 18/08/2013:

OBS: A questão 11 do TIPO 4, também é a 11 do TIPO 2 e é a 12 dos TIPOS 1 e 3. A questão 12 do TIPO 4, também é a 12 do TIPO 2 e é a 11 dos TIPOS 1 e 3.



QUESTÕES DE FILOSOFIA DO DIREITO

11) Boa parte da doutrina jusfilosófica contemporânea associa a ideia de Direito ao conceito de razão prática ou sabedoria prática.

Assinale a alternativa que apresenta o conceito correto de razão prática.

A) Uma forma de conhecimento científico (episteme) capaz de distinguir entre o verdadeiro e o falso.

B) Uma técnica (techne) capaz de produzir resultados universalmente corretos e desejados.

C)A manifestação de uma opinião (doxa) qualificada ou ponto de vista específico de um agente diante de um tema específico.

D) A capacidade de bem deliberar (phronesis) a respeito de bens ou questões humanas.


12) Considere a seguinte afirmação de Aristóteles:

“Temos pois definido o justo e o injusto. Após distingui-los assim um do outro, é evidente que a ação justa é intermediária entre o agir injustamente e o ser vítima da injustiça; pois um deles é ter demais e o outro é ter demasiado pouco.” (Aristóteles. Ética a Nicômaco. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultura, 1973, p. 329.)

De efeito, é correto concluir que para Aristóteles a justiça deve sempre ser entendida como

A) produto da legalidade, pois o homem probo é o homem justo.

B) espécie de meio termo.

C)relação de igualdade aritmética.

D) ação natural imutável.



Respostas: 11 – D e 12 – B.


Renato Padilha Ferreira Barros
É advogado e bacharel em Direito pela Faculdade Salesiana do Nordeste. É pós-graduado em Docência em Filosofia e Sociologia pelo INSAF - Instituto Salesiano de Filosofia. É graduado em Comunicação Social com Habilitação em Relações Públicas pela ESURP - Escola Superior de Relações Públicas.